23 de julho de 2021, Universidad ISEP
O cérebro como um órgão plástico
Há alguns anos, acreditava-se que nosso cérebro era estático e inalterável. Hoje, e graças aos avanços da neurociência, sabemos que existe a neuroplasticidade, ou seja, um cérebro plástico.
Há alguns anos, acreditava-se que nosso cérebro era estático e inalterável, que nascemos com um certo número de neurônios que se perderam com o tempo e que nossos genes herdados condicionam nossa inteligência. Hoje, e graças aos avanços da neurociência, sabemos que existe a neuroplasticidade, ou seja, um cérebro plástico.
O que é neuroplasticidade?
A neuroplasticidade é uma propriedade do sistema nervoso que permite que ele se adapte continuamente às experiências de vida. Nosso cérebro é excepcionalmente plástico, sendo capaz de adaptar sua atividade e mudar sua estrutura significativamente ao longo da vida.
A experiência modifica continuamente nosso cérebro, fortalecendo ou enfraquecendo as sinapses que conectam os neurônios, por isso estamos constantemente aprendendo. Esse fato permite que independentemente do declínio natural que a velhice acarreta, o aprendizado possa ocorrer em qualquer idade, gerando novos neurônios, razão pela qual nossa inteligência não é fixa ou imutável (Guillén, 2012).
Do ponto de vista educacional, o conceito de plasticidade cerebral constitui uma porta aberta para a esperança, pois implica que todos os alunos podem melhorar. Embora haja condicionamento genético, sabemos que o talento se constrói com esforço e prática contínua. E a nossa responsabilidade como professores consiste em orientar e acompanhar os alunos neste processo de aprendizagem e crescimento contínuo, não só para a escola mas também e, sobretudo, para a vida (Guillén, 2012). Sob esta premissa, foi desenhado o Universidade ISEP Master in Neuroeduacation.
Estudos de cérebro de plástico
Existem estudos emblemáticos neste campo. Um deles é o de Eleanor Maguire com taxistas de Londres, onde ela descobriu que eles aumentaram seu hipocampo ao terem que memorizar um complexo de ruas (Maguire, E. A. et al., 2000); ou o de Thomas Elbert com os violinistas, onde descobriu que os sujeitos aumentaram a região do córtex cerebral que controla os dedos da mão esquerda (Elbert, T. et al., 1995).
Recentemente, os estudos do espanhol Álvaro Pascual-Leone foram considerados originais e significativos. No primeiro, metade de um grupo de voluntários foi ensinado a tocar uma peça de piano com cinco dedos. Observou-se que o treinamento contínuo leva a um aumento da região correspondente ao córtex motor, responsável pela movimentação daqueles dedos. Embora esse resultado fosse um sinal claro de neuroplasticidade, não era novo porque outros experimentos haviam chegado a conclusões semelhantes. O que foi realmente interessante foi quando ele analisou as imagens cerebrais da outra metade dos voluntários que ele começou a imaginar tocando a peça. Observou-se que a simulação mental dos movimentos ativam as regiões do córtex motor necessárias para a execução dos movimentos reais. Curiosamente, a prática mental foi suficiente para promover a neuroplasticidade (Pascual-Leone, A.; Amedi, A.; Fregni, F.; Merabet, M.L., 2005).
O segundo estudo de Pascual-Leone é o chamado “experimento da banda”. Durante cinco dias, um grupo de voluntários saudáveis ficou com os olhos vendados. Durante esse período, eles se mantiveram ocupados lendo Braille (o sistema tátil de leitura e escrita projetado para cegos em que os dedos devem ser movidos sobre pontos impressos) e realizando tarefas de escuta que consistiam em diferenciar pares de tons que ouviam com fones de ouvido. A análise das imagens cerebrais por ressonância magnética funcional revelou que o córtex visual dos participantes, após cinco dias, mudou de função e passou a processar sinais auditivos e táteis, aumentando assim sua atividade. Depois de retirar as vendas, bastaram algumas horas para que a atividade diminuísse (Pascual-Leone, A.; Amedi, A.; Fregni, F.; Merabet, M.L., 2005). Do ponto de vista educacional, a demonstração de que o mero pensamento causa neuroplasticidade é valiosa.
Conclusões sobre a plasticidade cerebral
Por fim, somos a única espécie que usa a plasticidade para aperfeiçoar e evoluir o cérebro, o que nos torna diferentes e únicos. Mas, além disso, cada indivíduo de nossa espécie é único e imprevisível e participa de sua própria evolução devido à influência das experiências vividas.
A pesquisa em neurociência nos ajuda a entender melhor nosso cérebro e nos ajuda a otimizar nossas capacidades. A formação em neuroeducação ajuda os profissionais da psicologia e da educação a compreender os diferentes mapas neurocognitivos atualmente presentes nas salas de aula do nosso país e a melhorar os processos de aprendizagem.